Em 26 anos de existência, projeto já ajudou mais de 11 mil jovens a ingressarem na área científica, construindo carreiras sólidas no Brasil e exterior
Criado em 1999 pela Faperj com o objetivo de despertar vocações científicas entre estudantes do ensino médio, o Projeto Jovens Talentos — cujas inscrições encontram-se abertas até 15/04/25 (AQUI) — tem sido um diferencial na vida de muitos jovens em todo o Estado. Muitos dos estudantes que passaram pelo projeto em seus 26 anos de existência construíram carreiras promissoras na área científica, em instituições nacionais e até mesmo estrangeiras.

A UENF é uma das 70 instituições parceiras — entre escolas e universidades das redes federal e estadual em cerca de 30 municípios —, contando atualmente com cerca de 20 projetos.
O professor Jorge Belizário, que há 23 anos coordena o Jovens Talentos no Estado, faz um balanço altamente positivo do projeto. Segundo ele, foram atendidos mais de 11 mil jovens desde o início do Jovens Talentos. Muitos destes estudantes tornaram-se mestres e doutores e hoje atuam como orientadores de novos bolsistas, principalmente na UENF.
— O programa é um sucesso devido à sua importância e às parcerias que nos apoiam: universidades, institutos de pesquisa, escolas, institutos federais, e, acima de tudo, o fundamental apoio dos orientadores, aos quais dedico a minha gratidão. A UENF sempre foi uma excelente parceira desde o nascer do Programa em 1999 — afirma.
De Santo Antônio de Pádua para instituição de pesquisa no Arizona
O biólogo Igor Santiago-Carvalho, de 29 anos, é um exemplo de ex-bolsista Jovens Talentos que prosseguiu na carreira científica e hoje ocupa um lugar de destaque numa instituição de pesquisa estrangeira. Nascido em Santo Antônio de Pádua, no Noroeste Fluminense, Igor é pesquisador do Departamento de Imunologia do Hospital Mayo Clinic (Scottsdale, Arizona).

Igor entrou no Jovens Talentos quando era estudante do Colégio Estadual Almirante Barão de Teffé, em Santo Antônio de Pádua, como bolsista da Universidade Federal Fluminense (UFF). Depois, ingressou no curso de Ciências Biológicas da UENF, passando direto para o doutorado na Universidade de São Paulo (USP) após a graduação, sem precisar cursar o mestrado. Em seguida, surgiu a oportunidade de realizar o estágio doutoral sanduíche na Mayo Clinic Arizona, onde se encontra até hoje.
— Participar do Projeto Jovens Talentos foi fundamental na minha vida. Foi através dele que entrei na Universidade e dei início à minha carreira científica — afirma.
Veja matéria publicada na Revista Nossa UENF sobre pesquisa feita por Igor AQUI.
Ex-bolsista consegue aprovação em três universidades públicas
Fazendo atualmente duas graduações — Engenharia Ambiental no IFF/Guarus e Licenciatura em Geografia em uma instituição privada — a estudante Leonarda de Souza Silva foi uma das bolsistas Jovens Talentos da UENF, que teve como orientador o pesquisador Josias, atual coordenador do Jovens Talentos / UENF.
Leonarda entrou no Jovens Talentos em 2021, quando estava no segundo ano do ensino médio. Na época, ela fazia o curso técnico em Análises Clínicas integrado ao ensino médio no ETE João Barcelos Martins. No estágio, ela participou de diversas atividades, como experimentos no laboratório, apresentação de seminários etc. Ela conta que, além de adquirir experiência na rotina de laboratório, passando a conhecer práticas e equipamentos, também adquiriu experiência na pesquisa de fontes bibliográficas, leitura de artigos, e em uma grande área de interesse: o One Health.

— Participar do projeto foi um marco muito importante na minha vida. Foi uma porta de entrada para a universidade. Isso me ajudou muito na hora em que eu, de fato, ingressei na graduação. Eu entrei sabendo muito mais do que a maioria dos meus colegas que não tiveram esse tipo de experiência — afirma.
Quando estava no último ano do ensino médio, Leonarda passou em três vestibulares: Engenharia de Materiais na USP; Meteorologia na UFRJ e Engenharia Ambiental no IFF. Por questões pessoais, acabou escolhendo ficar em Campos.
— Gosto de Engenharia Ambiental pela sua interdisciplinaridade. Encontrei nesse curso muito do que eu queria. Agora também estou fazendo licenciatura em Geografia porque Educação é uma preocupação minha. Tenho muita vontade de dar aula, inclusive na graduação — diz.
Leonarda participa de vários projetos, como o IFF Sustentável, no qual atua como bolsista de Iniciação Científica no Polo de Inovação, fazendo monitoramento da qualidade da água de Lagoa de Cima. Ela também faz parte de um projeto de extensão no IFF para divulgação do curso de Engenharia Ambiental nas escolas e pré-vestibulares. Além disso, atua como voluntária no projeto pré-vestibular Raízes do Saber e do projeto Tocando em Frente, que busca levar um currículo inovador para alunos de ensino fundamental.
— Agradeço muito ao professor Josias, que foi meu orientador. Ele me proporcionou uma experiência incrível. Tenho muito orgulho da quantidade de coisas que fiz, dos projetos que participei, das pessoas que impactei ou inspirei de alguma forma. Desejo que muitos jovens possam ter a mesma experiência que eu tive — disse.
Projeto ajudou estudante a descobrir vocação

Ex-estudante do Colégio Estadual Almirante Barroso, Maria Clara Rangel Fontes também passou pelo Jovens Talentos e, este ano, ingressou no bacharelado em Ciências Biológicas na UENF. Ela conta que, quando ingressou no Jovens Talentos, ainda não tinha certeza de que carreira gostaria de seguir.
— Eu entrei com o objetivo de ter certeza de que a Biologia era um ramo que eu realmente deveria seguir. A maior importância do Jovens Talentos para mim foi essa questão de me descobrir profissionalmente. O projeto me ajudou a ter foco, a falar em público, me permitiu o envolvimento na vida acadêmica. Hoje eu não tenho mais medo de não gostar do curso porque já me sinto introduzida na área — disse.
Segundo Maria Clara, o início foi difícil porque o ensino médio era em turno integral. Além disso, a escola era muito longe da UENF. Foi preciso obter a permissão do diretor para sair da escola antes do horário.
— O Jovens Talentos mudou a minha vida. Eu entrei de um jeito e saí de outro, completamente diferente. Eu saí determinada no que eu queria saber, consegui planejar um plano de carreira para mim. No meio do Jovens Talentos fiz o técnico do IFF e passei para a UENF, e assim estou seguindo. Se eu não tivesse participado do Jovens Talentos talvez hoje eu não tivesse tanta certeza do que eu quero para minha vida profissionalmente — disse.
Coordenador do Jovens Talentos/UENF busca atrair mais alunos

Atrair cada vez mais estudantes para o Jovens Talentos tem sido um dos objetivos do atual coordenador do projeto na UENF, o pesquisador Josias Alves Machado. Professor de Biologia da SEEDUC-RJ, Josias aproveita sua proximidade com as escolas para divulgar o projeto entre professores e alunos. Ele assumiu recentemente a coordenação do projeto na UENF, que estava a cargo do professor Victor Quintana Flores.
Atuando desde 2002 como técnico do laboratório de Bioquímica da Unidade de Experimentação Animal do Hospital Veterinário da UENF, Josias é doutor em Ciências Ambientais e Conservação pela UFRJ/Macaé e mestre em Ciência Animal pela UENF. Desde 2012, ele orienta alunos do projeto Jovens Talentos.
— Fico muito feliz em ajudar esses jovens. Todos que passaram pelo nosso laboratório no ano passado conseguiram vaga em universidades públicas — diz.
Ele desenvolve vários projetos com os alunos que participam do Jovens Talentos, sempre buscando estimular o gosto pelas atividades acadêmicas. Um de seus focos também é a divulgação científica entre os jovens.

Josias busca também a inclusão de alunos neurodivergentes, empenhando-se em ajudá-los a superar as dificuldades inerentes à convivência na universidade.
— Já tive e tenho atualmente um bolsista que é autista. É muito inteligente, mas é necessário entender suas especificidades. Infelizmente, um ex-bolsista autista passou para a universidade mas depois não foi à frente. Muita coisa precisa ser feita para facilitar a inclusão desses alunos no meio acadêmico — afirma.
Segundo Josias, em 2024, a UENF teve 44 bolsistas Jovens Talentos, a maior parte no Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), seguido do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT), Centro de Ciências do Homem (CCH) e Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB).
Projeto oferece 800 bolsas em todo o Estado
O projeto Jovens Talentos oferece uma bolsa no valor de R$ 300,00, que dura 18 meses, sem possibilidade de renovação. Para participar, o aluno deve ter de 15 a 18 anos de idade e estar regularmente matriculado na rede pública estadual de ensino, nos níveis médio ou profissional. O bolsista não poderá completar 19 anos até a data do encerramento do Edital,
Além disso, deve apresentar bom rendimento escolar, interesse em atuar em pesquisa e disponibilidade mínima de oito horas por semana para o cumprimento do estágio. É necessário que o aluno esteja cursando o 1º ou 2º ano (ou equivalente no caso de ensino técnico) do Ensino Médio/Técnico do Ensino Público. Não são aceitos pedidos de bolsas para alunos em ano final de curso (3º ou equivalente).
Uma vez selecionados, os jovens são encaminhados para os coordenadores dos projetos, que os recebem e orientam durante o estágio. Os orientadores são pesquisadores vinculados às instituições parceiras, que voluntariamente aceitam receber e orientar os estudantes. Os alunos podem ser inseridos em projeto de pesquisa já existente ou em projeto específico criado para o Jovens Talentos pelo orientador.
O projeto tem parcerias com instituições de pesquisa e universidades públicas e privadas do Estado do Rio de Janeiro e é executado pela Faperj e Cecierj. Os estudantes são selecionados pela coordenação do projeto, em comum acordo com as instituições que os receberão para o estágio e as escolas estaduais vinculadas. Em todo o estado, são 800 bolsistas.
São instituições parceiras do projeto: UFRJ, Uerj, FFP São Gonçalo, IEAPM, PUC-Rio, UCP, LNCC, Unirio, USU, IVP, UFF, IFF Bom Jesus, IFRJ – Pinheiral, UENF, IFF-Campos, UFRRJ, UFRJ-Macaé , IFF Cabo Frio, IFF Itaperuna, Inca, CBPF, USS, Pesagro, Fiocruz, Eletronuclear, Nupem-UFRJ, UFF (S.A.Pádua), DRM, IFRJ Paulo de Frontin, IFF Guarus, IFRJ Volta Redonda, UFF Volta Redonda, UFRJ Macaé e UFRRJ Nova Iguaçu.
(Jornalista: Fúlvia D’Alessandri – ASCOM/UENF)